quarta-feira, 24 de outubro de 2012

MEU AMIGO JOSÉ


                                                                 
Já disseram que uns leram da vida um capítulo, outros o livro inteiro. Já o Zé Geraldo diz
que quem nasce Zé não morre José. E o grande José Mauro de Vasconcelos disse que ninguém é José à toa. Pode ser que esses pensamentos estejam certos, mas pode ser também um equívoco desses que às vezes amamos.Lembro-me agora dessas coisas porque estou na solidão da escrita. Pensando em minha terra como faço todos os dias de meu Deus. Neste cinco de dezembro de sol e de desejos tão pungentes.Aqui de meu nada político em que só posso homenagear Barro Duro em pensamento. Faço, assim , o meu dever de filho preterido das paixões telúricas, mas que não esvaece do coração aquilo que o fez amar. Precisamente por isso, por está a pensar na essência da terra e não nessas banalidades passageiras, foi que me lembrei de meu amigo José. Era no tempo da cheia do Mucambo. Nascera uma criança cuja mãe, olhando-o com ternura, lembrou-se do pai de Jesus e resolveu chamá-lo José. “ Este nome esta cruz que carrego”, como dizia a canção. Foi para vida de corpo e de alma. 100% de corpo, 1000% de alma no peito e na passada de andarilho. O José guia de cego. O quebrador de coco. Trabalhador do eito. Migrante... O José da construção. O garimpeiro. O soldado. O de ofício topado, amante da liberdade, o grande filho de Valtaire. O José de visão de águia. Viajante das asas do condor. O pensador. O artista. O veemente orador: “ você está me entendendo?... Você está me entendendo?...” Como eu entendo, meu amigo. Você que tem tanto para dizer. Você que viveu e refletiu. Tanto tem me ensinado que só tenho a lhe agradecer. Você que ler a vida com lentes de precisão. Sabe tanto da vida e de sua terra que sempre se permite um pouco mais aprender. Não faz como estes que por pensarem saber passam a vida sem aprender. Isso também aprendi com vossa senhoria, que compreendeu Sócrates e João Guimarães Rosa neste mister. Quero lhe fazer um pedido. Você que é leitor da vida e dos livros, possa então nos perdoar. Por não lavarmos nossa mente com sabedoria. Por aceitar governos incultos. Por desprezar quem tanto podia ajudar. Você nasceu Zé, mas para mim morrerá: José, o que ler o mundo. Leu o livro inteiro. Ninguém é mesmo José à toa. Um aperto de mão, meu amigo. E viva o ingênuo Barro Duro. Neste cinco de dezembro.               
                                               JOSÉ SOARES LIMA
                                               TERESINA, 05 DE DEZEMBRO DE 2009.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

A ENXADA E O LIVRO



 
Um pensador já disse que o homem é um ser simbólico. Bela e sábia constatação. É através do aspecto simbólico que, ao longo de toda a história da humanidade, alguns dominaram a consciência coletiva e impuseram ao povo seus cruéis e inconfessáveis desígnios. O símbolo é consorte do interesse, este sim é que move o mundo. Todas as ideologias e causas têm, como pano de fundo, o interesse de uma pessoa ou de um grupo. Para ser mais cotidiano, vou lembrar dos símbolos e imagens, abstratas ou concretas, tangíveis ou intangíveis, que povoam o nosso dia a dia em Barro Duro. Antes quero falar da razão de umas coisas darem certo e outras não na sociedade. Quando busco na memória uma ideia (ou coisa) que deu certo e mereceu acolhida de todas as gentes, lembro do CAPITALISMO. Na concepção mais popular, capitalismo é um sistema de liberdade em que o mais arguto aufere maior lucro e vantagens na relação com as outras pessoas, seja no âmbito do mercado, seja nas demais relações da vida social. É instintivo, foi talhado na essência da natureza humana, nesse desejo invencível para uns de querer sempre se dar bem e tirar vantagem em tudo. Aqui predomina a paixão por somar e multiplicar. Praticamente não é uma ideia e sim uma coisa natural. O SOCIALISMO é uma coisa que não deu certo. Era uma ideia bonita, mas contrariava a essência da maioria dos homens. Inclusive de muitos que se autodenominam socialistas. As pessoas nutrem grandes reservas em relação as operações dividir e diminuir. Por isso, lembrei, nesta manhã, ainda na esteira da eleição municipal, que o símbolo socialista do martelo e da foice (proletariados e camponeses) era uma grande balela. As classes mais simples nunca comporão governo algum. O flerte com as massas guardam sempre o recôndito propósito de seduzi-la para, em seguida, lhes manipular. Os símbolos opostos que povoam minha memória em Barro Duro são A ENXADA E O LIVRO. A primeira representa a atividade rural. A serra do Cipó era a montanha de Sísifo. O trabalho fatídico e honesto de lavrar a terra, cuidar do gado e esperar em Deus a bendita chuva para produzir a vida que é possível ter. O livro, em nosso caso, representava o acesso ao mundo do conhecimento e uma maneira de adquirir uma profissão intelectual. Mas vê-se que no tocante à eleição em nosso lugar nem o livro nem a enxada, nem o trabalho nem o estudo são coisas determinantes para vencer na política. Nisso contraria tudo, absolutamente tudo que aprendi. Meu pai me ensinou que se vence na vida pelo trabalho ou pelo estudo. Em política isso não tem se revelado verdadeiro. O interesse imediato é o motor da compra de voto. Para o povo, o amanhã não existe. Porém, minha luta é esta: mostrar que o amanhã existe e deve ser construído no hoje.