quarta-feira, 28 de novembro de 2012

A CONSTRUÇÃO DE UMA IDENTIDADE CULTURAL



Cultura é toda obra ou engenho humano. Assim, cultural é tudo que se constitui como produto do trabalho material ou intelectual do ser humano. Entenda-se, neste contexto, a dimensão cultural como antítese das manifestações e estados da natureza. Nesta toada o que vem do homem é cultural e apenas o que promana da natureza não se configura como seu mister. À guisa de discorrer acerca do aniversário de meio século de nosso Barro Duro, fico a pensar naquilo que pode ser entendido como sendo efetivamente caracteres de uma identidade cultural local. Barro Duro possui, em 2012, uma população de apenas 6.609 habitantes, fica relativamente próximo da capital do estado e sente diretamente a influência cultural da televisão e da internet. Que seria, nesse diapasão, cultura genuinamente barrodurense ? Espero que os estudiosos do futuro respondam esta singela indagação. Cumpre-me aqui esboçar o que percebo na vida cotidiana local e pedir ao bom Deus que o homem barrodurense de hoje e do porvir realize mais na dimensão cultural e consolide em nossa memória uma evidente identidade cultural barrodurense. Domingo no campão tinha Faveiras & Fluminense. Não havia grama no campo, mas um barro vermelho, onde o lateral esquerdo do Faveiras, Ernandes Feitosa (o Nana), levantava a poeira e a torcida com seu carrim espetacular. O Alonso da dona Mundica era forte como um touro espanhol e dominava a lateral direita do campo, daquele lado das mangueiras plantadas pelo seu Fernando. O Carlos do Fransquim era o nosso orgulho esportivo, genial e veloz, era o goleador contumaz do Fluminense e da seleção de Barro Duro. Eu e meu irmão Manoel marcávamos o campo com a cal da construção e ganhávamos o dinheiro do ingresso na danceteria do Evandro (hoje do Leonardo). A matinal de carnaval no “Calcaroama clube”, o encontro dos amigos “ Se você fosse sincera ô ô ô, Aurora”. Quem tivesse de cabeça raspada era guerreiro desbravador dos portões da UFPI. Na semana santa, a gente gaseava as aulas de segunda e terça-feira para chegar mais cedo a Barro Duro. Corríamos para barragem do Riacho Seco, de BMX. O Tebinha do seu Chico Dama levantava o pneu como ninguém. Na cidade, o baile da escolha da rainha da CNEC provocava frenesi. A Diretora Jesus Pessoa tinha o talento de mandar sempre a mais bela da escola para o certame. Os festejos de junho enchiam o centro de barracas de palha, onde os ébrios bradavam riquezas que não tinham. Os grupos de jovens da igreja católica realizavam os banhos, que nada tinham de sacro. O bairro Floriano com seu chilandê, O louvorzão da igreja Batista, o culto na feira da Assembleia de Deus, “O nosso clube da esquina” da praça da matriz. A política local sempre cheia de paixões. O que pode ser, enfim, nossa cultura ? Na dimensão imaterial Barro Duro é diferenciado e único. Se for traçar o perfil de um barrodurense original lembro-me logo do olhar altaneiro. A alma barrodurense não pode ser vista por um olhar apressado. É necessário reunir mais elementos sob pena de ser superficial e, assim, equivocado. À primeira impressão, o barrodurense é vaidoso e sem modos (alguns realmente o são, mas não representam a generalidade de nosso povo). Tem-se em alta conta, sem ampara na realidade dos fatos, e é bisbilhoteiro por natureza. Acha-se mais inteligente do que efetivamente o é e tenta demostrar além do que realmente possui. É de um estilo afetado e etnocêntrico. Alguns sofrem quando não podem segurar esta pose. Têm famílias que acreditam compor uma elite local. Apesar de ocupar os mesmos espaços populares, vestir as mesmas roupas, comer as mesmas comidas e falar o mesmo coloquialismo rude; pensam-se superiores e demonstram isso no olhar. Estes são cerceadores e tentam dividir nossa gente por castas. Todavia, com um olhar atento e compassivo, próprio de quem ama, vejo meus irmãos de Barro Duro gentis, afetuosos, prestativos, boa conversa, alegres e com as mãos estendidas para a amizade. Esse Barro Duro toca fundo. A gente não consegue se desvencilhar. Todos são menoscabados na vida de um jeito ou de outro; por uma pessoa ou por outra ora. Por que guardar magoas de nosso lugar ? Eu não guardo nada negativo de meu Barro Duro. Só lembranças doces de um lugar em que sou mais feliz no mundo. Onde tenho centenas de amigos. Cada um com seu jeito. Alguns realmente ordinários, mas é minha gente. O povo de quem eu gosto. O lugar onde quero sempre estar, que povoa minha memória quando fico a matutar. Terra do Cajuí, do Cheiroso, “de encantos mil” para teus filhos que compreendem tua essência. És a melhor parte de meu mundo e tenciono em ti educar minha Ana Beatriz. Que Deus salve Barro Duro em seus 50 anos.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

A PAIXÃO DOS MENTECAPTOS




Os mentecaptos não carecem de emoção. A razão é fugidia, mas o coração é um guia seguro. Então, o folclórico Buti saía batendo sua lata de goiabada vazia pelas ruas de nosso Barro Duro, despertando os homens do sono, anunciando que a vida corria mundo afora: "Brasília! 9 horas, a imprensa da capital federal acabou de divulgar mais um boletim sobre o estado de saúde do presidente Tancredo Neves..."Já o pernambucano Floriano caminhava aflito no mercado municipal, balbuciando delírios de amor passado, mas consciente de que queria viver e morrer em nossa terra. Só o amor transcende os espaços intangíveis da memória e alcança um local seguro em que nem a alienação mental faz o homem de sua terra se desprender. Em 05 de dezembro de 1962, as leis conferiram ao nosso lugar o status de município. "Aqui sempre foi bom", dizia-me com emoção o mestre Umbelino Cordeiro do Nascimento. O município chega a meio século de emancipação com muito a ser feito no tocante à execução de políticas públicas. Mas, às vezes, temos a impressão ingênua de que a vida está completa. Em dezembro os encontros dão o tom colorido da emoção. A gente fica com aquela sensação de que é possível melhorar a vida das pessoas daqui. Nossa terra querida onde até os mentecaptos cantam e de onde jamais tencionam sair. Salve Barro Duro de nosso coração. "Os poetas e cronistas esquecidos" jamais se esquecem de ti, amado lugar. Nem que a luz se apague ao meio-dia, nem que a lua perca o romantismo original, nem que para o amor não aja uma recompensa, este é meu canto de alegria por teus dias, minha terra querida sem igual.