quarta-feira, 20 de março de 2013

O PREÇO DO PRESENTE



O presente, às vezes, parece tudo. Que imenso perigo! Comecemos com música e poesia para falar da vida. Como esta: “Hoje eu queria te encontrar a qualquer preço, nem que seja só para te levar para casa”. Coisa agradável é o amor, faz de um instante uma completude. O poeta Carlos Drummond de Andrade disse que “o presente é grande”, talvez por isso difícil de transpor. E uma canção bonita de Nando Reis diz o eu-lírico que “trocaria a eternidade por esta noite”. Vê-se, portanto, como é difícil resistir aos ímpetos do presente. Trazemos uma herança ancestral que nos impulsiona a viver tudo como se não houvesse amanhã. Sem resistir ao momento. Esquecendo-se de que tudo que fazemos é definitivo. E que, quase sempre, os efeitos de nossas escolhas são imutáveis. O pensador brasileiro Eduardo Giannetti ensina que é na adolescência que ocorre o período mais caótico no que tange à impulsividade humana. Veja como a vida exige muito! É exatamente nesse momento que temos de tomar uma das maiores e mais delicadas decisões da vida, a escolha da profissão. O presente mostra-se enorme em nossa frente. Tudo, enfim, é possibilidade! As paixões, que embriagam; as baladas, álcool, sexo, drogas, redes sociais, dormir muito, o canto da sereia, a ânsia por transgredir. No entanto, a vida exige que sentemos diante de um professor para aprender Matemática, Química, Biologia, Inglês etc. Por isso, a ponte para o futuro é invisível para muitos. Não é mesmo fácil deixar o grande presente e pensar no amanhã. Mas é necessário. A vida não é muito compassiva com quem não quer fazer sacrifícios. Assim, é crucial plantar para o amanhã. Vale a pena resistir aos encantos do presente e investir no futuro. Aproveitar a vida não significa ser um tolo sem perspectiva. Deve-se aproveitar o dia, mas sem se esquecer de também ser feliz quando o futuro chegar.


sexta-feira, 8 de março de 2013

MUDAR PARADIGMA



Entenda-se paradigma como uma forma de ver ou compreender algo. Seja um modelo ético, seja um padrão de comportamento. Todos seguimos um paradigma na vida. Tenho um amigo, o Fabrício, que disse algo bastante interessante em um comentário no meu Blog. Falando de educação, disse que “adquiriu o suficiente para continuar lutando com suas próprias forças”. É isso. Ele compreendeu o que realmente importa. Mudar paradigma é um evento possível! Lembro-me, de forma muito viva, que, desde muito cedo, decidi mudar de vida. Os meus pais, apesar de inteligentes e maravilhosos, nunca foram à escola. A gente tinha apenas a prática da vida. O mundo tinha um mistério pequeno. Na adolescência, parei de jogar futebol (que eu adorava!!!) e passei a estudar dez horas por dia. Como é bom poder lutar com as próprias forças, caro Fabrício! Tudo é uma questão de escolha. Nada está determinado. É preciso transcender. É necessário mudar paradigma. A pior escolha, acreditem, é ficar se queixando dos governos, da vida e dos outros. E como gosta-se disso! “O inferno são os outros”, asseverava Sartre. Com o tempo algumas coisas tendem a ficar claras. O segredo da vida equilibrada é saber administrar as frustrações. Todos as têm. Chega de vaidade, meu povo. A gente precisa mudar paradigma, ou admitir que a culpa é nossa quando as coisas dão erradas, ao menos a maior parte. Quem sabe um dia encontramos alguém que nos ame de verdade, façamos uma faculdade, passemos num concurso público, criemos um Blog para nos expressar, tenhamos filhas e continuemos a sonhar.

quinta-feira, 7 de março de 2013

BYE BYE, POLÍTICA



Todo homem que ama sua terra e sua gente sonha em um dia intervir na Política. Platão, por um tempo, acreditou nisso e confessou a um amigo esse propósito. Agora, depois de o rio fluir para nunca mais, vejo que Política em minha terra (ao menos para mim) é uma questão de melancolia. Só vai bem com o vinho e a poesia e quem disser mais algo é uma besta. Certo esteve Cazuza quando disse que seu partido era um coração partido e Carlos Drummond de Andrade quando escreveu que é tempo de homens partidos. E a Política, que tanto interesse nos desperta, passa a ser o objeto de nossa dor. É natural que as adversas circunstâncias imediatas turve a visão de nossos irmãos. Não posso, por isso, culpá-los. Uns que estão em menor desconforto deviam ser a torrente desbravadora de um ímpeto de reação, mas ao contrário são os primeiros que se acovardam. Não é mais mesmo muito comum encontrar aqueles heróis do desprendimento das décadas inspiradoras de minha geração. Fomos convertidos à impassividade. Voltar a usar aquela velha roupa surrada de que nos fala o grande Zé Geraldo nem pensar. Estamos presos a um tempo deletério que corrompe até os menos fragilizados. Já perdi a estima por muita gente em minha terra. Agora para gerar uma ideia de solidariedade em mim preciso me refazer por inteiro. Meu coração é uma fábrica de mágoas. A despeito da consciência de que a amargura é por essência destrutiva, ainda não pude me desvencilhar desse sentimento vil. Não deixei ninguém órfão. Em verdade eu quase sempre estive sozinho. Meus companheiros pugnavam suas próprias lutas. Assim, vejo que fui combatente numa luta solitária. E pior que não me desincumbi da tarefa com garbo. A vida é diferente na prática. Tenho me iludido em vão. Meu coração não é político. Não sei se estou completamente equivocado, mas pude constatar com toda clareza que minhas ideias não gozam de muito favor na coletividade de meu povo. Não me tenho realizado muito por aqui. Poucas pessoas são-me interessantes. Algumas eu gostaria de não conhecer para não ser necessária a atitude política de cumprimentá-las. Era talvez nessas horas que um poeta de quem gosto dizia não ser digno de respirar esse ar agreste. Sua tenra ironia diz tudo. Aqui devíamos respirar o ar da cumplicidade. Reconhecer no sofrimento do outro a minha luta. Não há razão para não estarmos próximos. É a história do rio da minha terra, todos precisamos dele incólume. Sua vida é a nossa ventura. Sua dor, a nossa miséria. No entanto, não têm sido transpostas as cercas do egoísmo. Meu fracasso pode se configurar na alegria do cruel rival. A deslealdade constitui-se em meio eficiente de se ascender no lugar. Achar, nesse seio impuro de terra natal, alguém com quem sorrir e dividir algum projeto tem sido um instante raro. Alguns bons amigos me restam felizmente, mas não trazem tanta alegria no olhar para compartilhar sorrisos. Assim, vou seguindo em frente nesse passo inseguro. Sem muita saudade dos confrades que perdi. Se pouco valho por aqui, isso não encontra amparo recíproco. Em verdade, para mim, essa terra e essa gente representam bastante e não é um mero desapontamento que me vai fazer negar esta verdade. A solidão de que falei deriva da pouca reflexão acerca dos fatos que aqui sucedem desde o bravo e glorioso dia cinco de dezembro de 1962. Fica todo mundo propenso ao engano. Só nisso, e pena que em contexto bem diverso, fazem como o grande Cristo que como descrito pelo profeta Isaías “ vai como ovelha para o matadouro sem abrir a boca”. Mas aqui a resignação brota é da ignorância mais abjeta. Quem ousar destoar do coro da verdade sabida será achincalhado e provará do escárnio de todos para aprender a seguir a manada sem reclamar. Vejo agora que em meios que tais a questão da consciência política é uma grande balela. Aqui anulamos o argumento de autoridade intelectual e repristinamos a teoria do medalhão de onde dimana a explicação para todo fenômeno. Assim, as nossas cogitações não podem mesmo gozar de muito favor. Destarte, lamento perder o que nunca tive. Foi bom, contudo, ver algumas máscaras cair. Agora o meu partido é a partida. Não tenho medo dessa solidão. Caminho resoluto pelo meu chão, mais meu que qualquer outro. E tenho orgulho de ser barrodurense, mas como dói sê-lo.