quinta-feira, 7 de março de 2013

BYE BYE, POLÍTICA



Todo homem que ama sua terra e sua gente sonha em um dia intervir na Política. Platão, por um tempo, acreditou nisso e confessou a um amigo esse propósito. Agora, depois de o rio fluir para nunca mais, vejo que Política em minha terra (ao menos para mim) é uma questão de melancolia. Só vai bem com o vinho e a poesia e quem disser mais algo é uma besta. Certo esteve Cazuza quando disse que seu partido era um coração partido e Carlos Drummond de Andrade quando escreveu que é tempo de homens partidos. E a Política, que tanto interesse nos desperta, passa a ser o objeto de nossa dor. É natural que as adversas circunstâncias imediatas turve a visão de nossos irmãos. Não posso, por isso, culpá-los. Uns que estão em menor desconforto deviam ser a torrente desbravadora de um ímpeto de reação, mas ao contrário são os primeiros que se acovardam. Não é mais mesmo muito comum encontrar aqueles heróis do desprendimento das décadas inspiradoras de minha geração. Fomos convertidos à impassividade. Voltar a usar aquela velha roupa surrada de que nos fala o grande Zé Geraldo nem pensar. Estamos presos a um tempo deletério que corrompe até os menos fragilizados. Já perdi a estima por muita gente em minha terra. Agora para gerar uma ideia de solidariedade em mim preciso me refazer por inteiro. Meu coração é uma fábrica de mágoas. A despeito da consciência de que a amargura é por essência destrutiva, ainda não pude me desvencilhar desse sentimento vil. Não deixei ninguém órfão. Em verdade eu quase sempre estive sozinho. Meus companheiros pugnavam suas próprias lutas. Assim, vejo que fui combatente numa luta solitária. E pior que não me desincumbi da tarefa com garbo. A vida é diferente na prática. Tenho me iludido em vão. Meu coração não é político. Não sei se estou completamente equivocado, mas pude constatar com toda clareza que minhas ideias não gozam de muito favor na coletividade de meu povo. Não me tenho realizado muito por aqui. Poucas pessoas são-me interessantes. Algumas eu gostaria de não conhecer para não ser necessária a atitude política de cumprimentá-las. Era talvez nessas horas que um poeta de quem gosto dizia não ser digno de respirar esse ar agreste. Sua tenra ironia diz tudo. Aqui devíamos respirar o ar da cumplicidade. Reconhecer no sofrimento do outro a minha luta. Não há razão para não estarmos próximos. É a história do rio da minha terra, todos precisamos dele incólume. Sua vida é a nossa ventura. Sua dor, a nossa miséria. No entanto, não têm sido transpostas as cercas do egoísmo. Meu fracasso pode se configurar na alegria do cruel rival. A deslealdade constitui-se em meio eficiente de se ascender no lugar. Achar, nesse seio impuro de terra natal, alguém com quem sorrir e dividir algum projeto tem sido um instante raro. Alguns bons amigos me restam felizmente, mas não trazem tanta alegria no olhar para compartilhar sorrisos. Assim, vou seguindo em frente nesse passo inseguro. Sem muita saudade dos confrades que perdi. Se pouco valho por aqui, isso não encontra amparo recíproco. Em verdade, para mim, essa terra e essa gente representam bastante e não é um mero desapontamento que me vai fazer negar esta verdade. A solidão de que falei deriva da pouca reflexão acerca dos fatos que aqui sucedem desde o bravo e glorioso dia cinco de dezembro de 1962. Fica todo mundo propenso ao engano. Só nisso, e pena que em contexto bem diverso, fazem como o grande Cristo que como descrito pelo profeta Isaías “ vai como ovelha para o matadouro sem abrir a boca”. Mas aqui a resignação brota é da ignorância mais abjeta. Quem ousar destoar do coro da verdade sabida será achincalhado e provará do escárnio de todos para aprender a seguir a manada sem reclamar. Vejo agora que em meios que tais a questão da consciência política é uma grande balela. Aqui anulamos o argumento de autoridade intelectual e repristinamos a teoria do medalhão de onde dimana a explicação para todo fenômeno. Assim, as nossas cogitações não podem mesmo gozar de muito favor. Destarte, lamento perder o que nunca tive. Foi bom, contudo, ver algumas máscaras cair. Agora o meu partido é a partida. Não tenho medo dessa solidão. Caminho resoluto pelo meu chão, mais meu que qualquer outro. E tenho orgulho de ser barrodurense, mas como dói sê-lo.

2 comentários:

  1. É mesmo bem difícil ter uma posição política em Barro Duro e, mais ainda, participar dela na configuração em que se encontra. A grande maioria dos que se dedicam a atividade politica em nossa terrinha só estão interessados em tirar proveito, fazer uma boquinha. Os companheiros de batalha só estão interessados nos despojos e na primeira oportunidade mudam de lado esquecendo se de todas as juras, como se fossem simples profissionais da área. Mas, tudo isso, é reflexo da atual cultura política de nossa cidade. Vejo que essa cultura maldita é passada de geração pra geração e contamina maioria dos que dela participa. Lendo teu texto e fazendo algumas reflexões, vejo que você não é o único que está desiludido com a política local. Às vezes penso em ter a mesma atitude que você e sei que não me arrependeria, mas por enquanto não. Vou esperar mais um pouco. Grande abraço! Fabricio

    ResponderExcluir
  2. parabens pelo texto e pela atitude ...

    ResponderExcluir