Uma voz pode apenas encantar, mas pode ser também um gesto de
solidariedade. O silêncio é o medo. É a dor. É o distanciamento absoluto dos
outros. Talvez um coração pateticamente alienado possa supor ser feliz sozinho.
Porém, o verdadeiro olhar grande está no viver coletivo. A senhora Raquel
Sheherazade sabe que "a melhor forma de viver é viver para os outros".
Aprendeu também que a melhor forma de dizer é dizer pelos outros. É falar pelos que não têm voz social. É bradar
por necessidade de combater o aparentemente impossível. Sei como é, senhora
Sheherazade, a gente lembra que os ouvidos da sociedade são impassíveis para os
simples. O homem sozinho fala baixo e não é compreendido. Então, tem-se uma
vontade invencível de falar pelo povo, tal qual a senhora falou pelos bombeiros
do Rio de Janeiro. Tem-se o ímpeto de mostrar indignação, como fizera ao
criticar o político José Sarney do Maranhão. Sua coragem dá esperança aos que
acreditam que se deve dizer a verdade mesmo aos que não a querem ouvir. Sua
veemência dissipa o preconceito contra as minorias e faz ver que é sempre
verdadeiro o que se faz com amor. A senhora é realmente uma pessoa fascinante. Todavia,
posso lhe assegurar, senhora Sheherazade, que não seria feliz se vivesse em nosso
Barro Duro. Aqui não merece favor pensamento livre como o seu, nem prosperam
opiniões que não engrossem o coro da alienação político-cultural local. O
barrodurense enfrenta as frustrações é contando vantagem. Gosta de uma bravata.
Em tudo mostra pouco empenho, mas adora um elogio. Se ninguém faz,
autoelogia-se. Há também os amantes de si mesmo, que se acham pensadores, mas
não passam de psiceudointelectuais se exibindo para uma plateia ignorante. Assim,
senhora Sheherazade, a senhora que é culta e contundente seria detestada aqui. Às
vezes, procuro, com a lanterna de Diógenes, pessoas interessantes em meu lugar.
Às vezes, encontro. Mas vejo que estão sem esperança ou cansaram-se de lutar. Senhora
Sheherazade, seu estilo contagiante me tocou. Motivou-me dizer ao meu povo que
ainda estou por aqui. E se Deus quiser um dia serei ouvido. Fique com Deus,
senhora Sheherazade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário