segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

GALHO DE GOIABEIRA




Como é pungente a realidade sociocultural daqui. Este enfadonho trabalho de buscar uma saída, às vezes, parece um correr atrás do vento de que nos falou o sábio Salomão. Posso dizer que hoje a ilusão do amor não me seduziu. Estou terrivelmente triste. E, assim, fico desconfortável para escrever, porque detesto lamúrias. O povo tem sido um espectro masoquista por convicção. Alimenta o sonho dos outros desde que lhes retribuam com um algoz desprezo. A arte de convencer pela palavra é realmente ineficiente. Por isso, João Cabral de Melo Neto disse ser difícil defender a vida só com palavras. Mas o caso daqui é mais estarrecedor, ainda, uma vez que também não se costuma observar exemplos. Há muito tempo lhe ofereço meu abraço, meu lugar. E vejo você sofrer, sem reflexão, o desamor dos que preferiu amar. Todavia, não podemos abandonar o que é nosso apenas porque inclina-se estupidamente para o engano. "Não foi você quem me escolheu, eu escolhi você", lugar ingrato e servil. Talvez não seja demasiado a mágoa que uns nutrem. É mesmo desumano um amor não correspondido. E não é leve um dia assim. A gente desanima como um covarde. Caminha nas ruas e viaja nos pensamentos a esmo. "Por que contam coisas as crianças ?" Não é fácil discernir a falsidade. A gente teima em confiar no sentido ingênuo da audição, mas sofre sempre. O homem desenvolveu esta estranha arte de expressar o que a mente não pensa. E só os muito imprudentes ou desprendidos de qualquer interesse material dizem o que pensam. Era do pé de goiaba do quintal de minha infância que eu tirava o meu exemplo de resistência. A gente subia juntos. A molecada não esperava sua vez. Todavia, os galhos não quebravam. Suportavam toda a nossa grosseria e abuso. Queria ser como aquela árvore inquebrável do quintal de minha mãe. Não me importar com o peso do mundo. Manter a pele intacta e servir de exemplo de perseverança para minhas filhas. Ocorre, todavia, que um sonho não quer dizer teimosia. Amor próprio é algo que se impõe. O vento nem sempre fugiu de mim. Sonho e vida devem compor um encontro nunca uma corrida. Que o vento traga consciência ao povo; que nossa gente aprenda que somente corruptos têm paciência de lhe mimar.                 

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