quinta-feira, 17 de outubro de 2013

EU AMO MESMO É O BARRO DURO



A pessoa que disse que “o estilo é o próprio homem” sabia o que estava dizendo. Só se muda um estilo mudando-se o próprio homem. Eu corro léguas nessa estrada infinita da memória. Salto cancelas, trilho veredas, passo rio, lagos e riacho. Ando na relva, bebo orvalho, tenho mil projetos e sonhos...Mas tenho de admitir: eu amo mesmo é o Barro Duro. Há vinte anos o amigo Clécio Catumbi tinha um bar paralelo à pracinha do abrigo, e lá era o nosso café francês. A gente ouvia música de Belchior, Chico Buarque, Gonzaguinha e saía pela rua pensando em ser rebelde. Na rua Manoel Soares Teixeira ficava a garagem da casa do Compadre Carlos Magno, onde era a sede de nossa revolução. Eu tinha vontade de mudar as coisas. Eu era um bolchevique e até o chão que pisava era vermelho. Quando me apaixonei pela primeira vez, fui Álvares de Azevedo e tinha no amor uma volúpia angelical. O chão tremia quando minha cavalaria cruzava as ruas, destituía as autoridades e impunha o meu governo revolucionário. Eu tinha tudo em minha imaginação. A vida social naquele tempo era muito mais precária, mesmo assim a gente sabia que as coisas iam melhorar. Por isso hoje não tenho nenhuma paciência com o estado de coitadismo a que se autoimpôs parte de meu povo. Não é honesto imputar ao outro a culpa pelo fracasso individual. É covarde ficar-se sempre culpando os outros pelo que não se realizou. Uma coisa que distingue os homens é a consciência. Com consciência a gente muda os rumos da vida. Se o povo se sentisse parte integrante do lugar, com um sentimento de pertencimento semelhante ao que os homens de bem tem pela família, a gente cuidaria melhor da cidade. Uma cidade pequena depende diretamente do poder público local para atender suas demandas. Vejo aqui a causa remota ou mesmo próxima das mazelas suportadas por todos no espectro social. O chefe do governo é escolhido pelo povo, mas diferentemente daquela balela de que o povo é sábio, estou convencido pelas evidências históricas que o povo é egoísta e estúpido. Por querer tirar sempre uma vantagem direta e imediata o povo explora o postulante ao poder como as prostitutas fazem com os homens ricos amantes da luxúria. Já o postulante ao cargo político anseia tanto pelo poder que se corrompe antes de assumir o governo. Vê-se assim que a coisa não vai melhorar, isto é óbvio. A Administração Pública é algo muito complexo. Não se constrói uma cidade adequadamente pensando-se apenas o plano individual ou grupal. É necessário ser atendida a dimensão coletiva. Estamos, todavia, cada vez mais nos afastando disso. As políticas públicas atuais visam a agradar o eleitor e vencer a eleição. Quem executa as políticas públicas faz de forma corrupta e desqualificada. Quem fiscaliza está preocupado com outra coisa. Assim, a ilegalidade é tão rotineira no Brasil que não espanta mais ninguém. A solução para minha terra e para o Brasil é talvez seguir o conselho de meu amigo cordelista Moizés Nobre: “trocar o povo” e não apenas o governo. Mas em todo lugar tem gente interesseira e ordinária. Por isso, prefiro mesmo é meu Barro Duro. E vou pedir ao Clécio para reabrir o bar.                                         

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