quinta-feira, 4 de abril de 2013

PACIÊNCIA



Para minha esposa Aline

Passei muito tempo esperando. Esquecido de olhar os lírios do campo, por uns instantes, como ensinou o grande Mestre. E tinha muito para dizer, mas detive-me na sedução do silêncio. Era para estender a mão somente. Beijar-te. Ler o jornal sem interesse. Ficar olhando ao longe. Imaginava-te insegura ao tempo em que eu me segurava em lembranças próximas e remotas de nós dois. Queria-te de volta logo. Os prognósticos otimistas eram apenas confortantes, mas não traziam a alegria da saúde nem de teu sorriso. Fiquei vagando pelo centro. Não conseguia pensar em nada senão em ti. Não estiveste sozinha um instante. Nem quando dormias. Velei por ti no meu dia como por nossa filha o faria numa noite de febre. Palavras,palavras...insuficientes, palavras! Eu sou um homem de imaginação cotidiana. Falem com precisão o que tenho a dizer. Lembrei-me de passagens comuns de nossa vida. Dias banais que têm-me proporcionado excepcional felicidade. Assim, percebi que somos felizes todo dia. Os grandes momentos às vezes não são mais que a disputa para recolher e ler a revista primeiro, no domingo. Jantar fora na quarta-feira, fazendo planos e, claro, as constantes redistribuições do orçamento doméstico. Espero te retribuir o bem que me trazes. A vida perto de ti é a melhor que já pude experimentar. O Millôr Fernandes, lembrando Sartre e complementando-o, disse que “o inferno são os outros, mas o paraíso também.” Tu compões meu paraíso particular e quase não é um exagero dizer isso. O amor dá luz ao estilo. E não fará ridículo um literato cheio de seu belo afã. Posso dizer que sinto a dor de quem ama, Porque estava triste contigo. Também pude provar da alegria de ver-te refeita e nisso não invejo os mais felizes da terra. Eu tenho tanto a dizer-te, mas não será com afetação literária. Vou prometer o futuro mais prolífero no caminho da passagem do Poço. Dar-te um presente a cada natal. Ouvir todas as tuas recomendações com paciência. Dedicar-te a bela música ' paciência ' de Lenine. A vida não parou para nós, meu amor. “Foi só um passo de dança.” Vamos dançar direito este ritmo às vezes tão difícil de acompanhar. Eu também amava o grande Ambrósio, nosso primo de Barra do Corda. Queria vê-lo no sítio, feliz, com os filhos, netos e amigos, na sombra daquelas árvores que ele plantou e não viu crescer. Pensei em escrever um texto para te oferecer quando tivesses alta do hospital. Sei que chorou, mas agora sorriremos juntos. O texto é para deixar indelével o turbilhão de sentimentos que vivenciamos esses dias. Manuel Bandeira disse como queria seu último poema. Fernando Sabino queria a última crônica dele como um sorriso de um pai feliz. Só queria que este texto fosse como nosso amor e apenas retratasse a verdade.

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