quarta-feira, 12 de junho de 2013

ELOGIO A SÁ BATISTA



A polícia jogou gás lacrimogêneo. As lágrimas rolaram do olho do estudante, mas não era choro. A polícia então atirou com balas de borracha e vazou o olho do estudante. Nada. A polícia arrastou o estudante no asfalto quente do sol de Teresina, mas ele não desistiu de sua luta. Esta gente inexplicável que tem um coração guerreiro e é tão necessária à república sempre foi desprezada no Brasil. Essa gente bonita que tem um ideal de lutar contra as injustiças sempre vai resistir. O burguesinho vê pela televisão e não entende, mas essa gente está defendendo o Brasil. Pude divisar entre a multidão, levando pancada da polícia, o meu professor de Filosofia Sá Batista. Aquele homem tem amor pela sociedade e não desiste nunca deste país cretino. A causa agora é o aumento abusivo no valor da tarifa da passagem de ônibus urbano intramunicipal. Ele sempre luta em defesa dos que não sabem lutar. É radical demais. É fascinante. É curador espontâneo dos grupos populares. Lembro ainda ele chegando com seu chinelão Samoa, dizendo que o amor se compra e que o governo só cuida de si mesmo. É de luta, mas sempre bem humorado. É o Sá Batista das greves vermelhas, das manifestações nas praças. Voz dissonante do acordo imoral. Já faz tanto tempo, meu professor! Você me ensinou a ver o Brasil. E eu vi aquele soldado arrastar o senhor. Eu vi que o senhor não corre e por isso o governo acha que tem de apanhar. Mas o senhor suportou a pancada para assegurar o direito de o filho do soldado pegar o ônibus para a escola. Eu me orgulho de você, Professor. A dor não é só sua. A honra é sua. E a Frei Serafim cobriu-se de fumaça negra. E o sol fez um arrebol bonito. E eu espero poder ensinar minha filha o nome dos homens que defendem o povo do Piauí.

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