domingo, 16 de junho de 2013

UNS PEQUENOS COLIBRIS




Domingo de solidão é um dia certo para pequenas lembranças. Por isso, agora me lembrei de um pé de roseira que minha mãe mantinha no quintal de nossa casa. Para ele concorriam, no pós-amanhecer, um casal de colibris sedentos por um néctar de vida. No sertão, a gente diz que esse passarim beija a flor, quando em verdade colhe o mel para viver. Por sua atividade, virou beija-flor, assim como a outro pássaro a lógica popular deu o nome de pica-pau. Para melhor servir a propósitos satíricos, o poeta Gregório de Matos chamou nosso pássaro de pica-flor. Lembro-me que, sob o sol levantando, eu via uns colibris parados no ar numa beleza sem igual. Esse pássaro-abelha, que a gente, na infância, abatia sem piedade para comer o coração pulsando e ficar coqueiro na baladeira, diz mais sobre a minha vida do que uma centena de livros áridos que já li. Lembrar daquele casal de colibris me faz compreender a alegoria de Esopo de que o mais forte sempre tem razão, mesmo não tendo, como na fábula do lobo e o cordeiro. Não importa a beleza encantadora de colibri. Não se detém o algoz em face do pequeno. Lutar com um igual é um desafio ético que não seduz muito os crápulas. E às vezes a gente se desgasta tentando fazer melhor. Os colibris voavam velozes. E eram belos, inocentes e bons. Eu tentei por semanas. Atirei um sem fim de pedras de baladeira. Um certo dia de que hoje me envergonho matei o primeiro. No mesmo instante o outro se aproximou como que se oferecendo para morte. Então, matei o segundo beija-flor. Aí saí me sentindo grande como umas pessoas que conheço, que perseguem os pequenos até o fim, com a diferença de que nunca se envergonham.                 

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