segunda-feira, 15 de julho de 2013

SONHOS QUE FENECEM


Ao poeta Valmir Colares

O tempo presente é mesmo veloz. “Quando se vê, já é sexta-feira.” E algumas coisas ficaram por fazer: a execução daquele projeto de vida que esbarra o sono, a felicitação pelo aniversário da mãe, a música preferida, o filme de que se gosta e um tempo livre para dedicar as filhas. Algumas coisas, definitivamente, estão erradas. Como no coral da igrejinha pobre que escondia Jesus por ser simples, a sociedade só vê o que não vale a pena ser visto. O palco é grande. O artista, porém, vê-se empurrado para o silêncio. Já os que representam e fogem da verdade estão sempre bem acolhidos no espetáculo. O palco é a própria vida artificial. A gente caminha inseguro por não saber onde descansar. Uma vez ouvi dizer que “a justiça é o pão do pobre”. Eu acreditei naquilo. Acredito às vezes no que me dizem. Mas sempre quero ver resultado no que acredito, caso contrário desisto. Tenho talento para desistir. Queria ter para arte o mesmo talento que tenho para abandonar os sonhos que fenecem. Eu vou embora. vou de verdade. Não me envergonho de ser eu mesmo. Às vezes vou em pedaços, querendo ficar. Mas é uma ilusão dourar um sonho já extinto. Se fosse possível, teria um baú antigo para guardar afetos e uma lixeira prata para jogar minhas mágoas. A gente tem o ímpeto de fazer alguma coisa útil nessa vida, mas tem como limite um muro. É preciso demolir os muros que nos confinam num espaço pequeno. Aceitar que algumas pessoas não se importam nunca. É crucial detestar os governos com suas escolhas equivocadas. Mas é vital alimentar um sonho novo, mesmo quando tudo vivido possa dizer não. É tempo de caminhar ainda, caro Valmir Colares. A gente não pode dizer não a uma mão estendida sem ardis. Um companheiro para a travessia dura da vida social é sempre um alento. E a gente não pode prescindir de seu talento e de sua contundente voz. Tenho uma regra única para artistas: que eles sejam livres; que se expressem de forma autêntica. Nunca tenciono lhes alinhar. “Quem anda na linha é trem de ferro, a liberdade sempre acha um jeito”, como pensa o escritor Manoel de Barros. Não passo um dia sozinho. Sempre tenho um Victor Hugo, um Manuel Bandeira, um João do Vale para dialogar. Aqui ainda temos a rua do Sol e a praça da Saudade. Temos poesia de verdade. E os sonhos que agora nascem não podem fenecer.


3 comentários:


  1. Professor...Eu queria ter a proeza de tornar até meus momentos de desalento em obra literaria,vc desenvolve um raciocinio com muita propriedade... convence seu leitor que desistir nem sempre representa covardia e demonstra isso com muita personalidade,considero-o ávido para praticar coisas úteis à sociedade.Não deixe seus sonhos fenecerem.O projeto Educacional de Barro Duro,prof Antonio Amaral Agradece sua Resiliencia.

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  2. Ese texto foi dirigido ao Poeta Valmir Colares,no entanto,quem o escreveu deixou muito de sí...então...
    Ao poeta José Soares Lima a musica "Raridade" de Anderson Freire(veja legendada no you tube).
    A letra dessa música além de expressar o q vc é na sua mais real essencia,menciona algumas considerações sobre oque vc escreveu aki.

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  3. Sonhos não fenecem. Mudam de cenário, de figurino, revisam o texto, vão descansar no fundo do baú do tempo e um belo dia voltam renovados... conheço Valmir Colares desde sempre e por isso digo que sua caminhada estará sempre repleta de recomeços.
    Belo texto, caro Soares. Já estou aguardando o próximo.

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