Ao
poeta Valmir Colares
O
tempo presente é mesmo veloz. “Quando se vê, já
é sexta-feira.” E algumas coisas ficaram por fazer: a
execução daquele projeto de vida que esbarra o sono, a
felicitação pelo aniversário da mãe, a
música preferida, o filme de que se gosta e um tempo livre
para dedicar as filhas. Algumas coisas, definitivamente, estão
erradas. Como no coral da igrejinha pobre que escondia Jesus por ser
simples, a sociedade só vê o que não vale a pena
ser visto. O palco é grande. O artista, porém, vê-se
empurrado para o silêncio. Já os que representam e fogem
da verdade estão sempre bem acolhidos no espetáculo. O
palco é a própria vida artificial. A gente caminha
inseguro por não saber onde descansar. Uma vez ouvi dizer que
“a justiça é o pão do pobre”. Eu acreditei
naquilo. Acredito às vezes no que me dizem. Mas sempre quero
ver resultado no que acredito, caso contrário desisto. Tenho
talento para desistir. Queria ter para arte o mesmo talento que tenho
para abandonar os sonhos que fenecem. Eu vou embora. vou de verdade.
Não me envergonho de ser eu mesmo. Às vezes vou em
pedaços, querendo ficar. Mas é uma ilusão dourar
um sonho já extinto. Se fosse possível, teria um baú
antigo para guardar afetos e uma lixeira prata para jogar minhas
mágoas. A gente tem o ímpeto de fazer alguma coisa útil
nessa vida, mas tem como limite um muro. É preciso demolir os
muros que nos confinam num espaço pequeno. Aceitar que algumas
pessoas não se importam nunca. É crucial detestar os
governos com suas escolhas equivocadas. Mas é vital alimentar
um sonho novo, mesmo quando tudo vivido possa dizer não. É
tempo de caminhar ainda, caro Valmir Colares. A gente não pode
dizer não a uma mão estendida sem ardis. Um companheiro
para a travessia dura da vida social é sempre um alento. E a
gente não pode prescindir de seu talento e de sua contundente
voz. Tenho uma regra única para artistas: que eles sejam
livres; que se expressem de forma autêntica. Nunca tenciono
lhes alinhar. “Quem anda na linha é trem de ferro, a
liberdade sempre acha um jeito”, como pensa o escritor Manoel de
Barros. Não passo um dia sozinho. Sempre tenho um Victor Hugo,
um Manuel Bandeira, um João do Vale para dialogar. Aqui ainda
temos a rua do Sol e a praça da Saudade. Temos poesia de
verdade. E os sonhos que agora nascem não podem fenecer.
Professor...Eu queria ter a proeza de tornar até meus momentos de desalento em obra literaria,vc desenvolve um raciocinio com muita propriedade... convence seu leitor que desistir nem sempre representa covardia e demonstra isso com muita personalidade,considero-o ávido para praticar coisas úteis à sociedade.Não deixe seus sonhos fenecerem.O projeto Educacional de Barro Duro,prof Antonio Amaral Agradece sua Resiliencia.
ResponderExcluirEse texto foi dirigido ao Poeta Valmir Colares,no entanto,quem o escreveu deixou muito de sí...então...
Ao poeta José Soares Lima a musica "Raridade" de Anderson Freire(veja legendada no you tube).
A letra dessa música além de expressar o q vc é na sua mais real essencia,menciona algumas considerações sobre oque vc escreveu aki.
Sonhos não fenecem. Mudam de cenário, de figurino, revisam o texto, vão descansar no fundo do baú do tempo e um belo dia voltam renovados... conheço Valmir Colares desde sempre e por isso digo que sua caminhada estará sempre repleta de recomeços.
ResponderExcluirBelo texto, caro Soares. Já estou aguardando o próximo.