sexta-feira, 17 de agosto de 2012

UMA MÚSICA





Tudo que buscamos é a paz. Dentro e fora de nós. Na mais sublime canção que sempre embala nossa vida. Eu procuro nas canções as belas histórias. A música diz dos outros e diz de mim. Promove os encontros e dá razão ao clichê de que embala os corações.
Não entender de música senão as histórias talvez não seja de todo ruim. Permite a liberdade de discorrer, comovido, dos ritmos que encantam sem o saber por quê. Sinto-me assim com Beethoven e suas sinfonias genias. Amo, pois, o ritmo, o arranjo, as ondas voando e ligando diferentes pessoas às mesmas emoções. Admiro a concentração dos músicos, cujo instrumento e a canção lhes constituem o universo. Mas o que adoro na música mesmo são as histórias!
Uma música faz recordar o que fomos. O que o tempo impiedoso malbaratou. Uma que dizia que “amor igual ao teu jamais encontrarei” passou como uma nuvem no sertão. Outra que diz que”o meu lugar é onde você quer que ele seja”, não foi. Mas eu me lembro muito bem... “ respeitar as lágrimas. Mais ainda as risadas”. “Ter também a palavra certa pra doutor não reclamar”. Partir para a cidade proibida. Lembrar que o tempo não para mesmo. Enfim, compor as histórias e levar as lembranças. Eu sempre gostei de música!
João Cabral de Melo Neto, poeta bom, dizia não gostar de música. Para ele, ela o fazia dormir. Ele gostava de algo que o fizesse acordar. Talvez por isso fosse tão lúcido, mas um pouco radical, não? Confessava gostar, todavia, das canções populares de Pernambuco. E nisso tinha toda razão, são ótimas! Mas a música também faz acordar. Vejam as canções engajadas, após o trinta e um de março de 1964! Literalmente a música acorda. Em Teresina, o ano era 1995, o espetacular radialista Dom Severino Neto ( onde estás? ) despertava-me com seu madrugada mirante. Músicas fantásticas do Brasil e do Maranhão.” Era legal merrmo! “ Que locutor! Que saudade, velho Dom!
Há também as penetrantes melodias e vozes do Cantor. “ sempre hei de suplicar mais perto quero estar, mais perto eu quero estar, meu Deus de ti”. Quando ouço este suplicar, recordo meu primeiro amor. A música nos aproxima. Não devemos nos afastar. Estava certo o grande de Itabira. Agora vou parar de escrever um pouco. Este texto, não sei... Mas as recordações me comoveram. O homem comovido é um bobalhão. O raciocínio cede à emoção. As glândulas dilatam. O fio encurta , o peito fracassa e os olhos amargam como fel. Recordo as canções que me motivaram para a luta. O compositor é meu herói. Assim, pude transcender. Reconhecer nessa arte de pensar a minha própria história. Seguir os passos de meu avô Alexandre, que lia e contava histórias aos seus pares num tempo em que ler era um privilégio dos ricos.
A música decerto fez de mim o que sou. Este reflexo comovido. Não canto em público nem toco instrumento musical, mas extraio de todas as artes as histórias da vida. Uma música agora vai bem. Quem sabe me traz uma história. Quem sabe aquela recordação adormecida. Vamos, então, à música.

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