A
única coisa constante da vida é a mudança,
asseverou Heráclito há séculos. O eclesiástico também tece sábias palavras acerca do
esvair-se da vida. Então, tenho pouco a dizer. Mas esta
lagarta que passa lentamente merece umas palavras. É realmente
um ser frágil. Desses que temos um desejo invencível de
calcar com os pés. Pisar e vê-lo se extinguir enquanto é
feio, lento e extremamente fácil de ser abatido. Se tiver as
condições propícias, um dia esta lagarta será
uma borboleta. Despertará olhares e interesse. Poderá
voar. Pousar nas flores. Bater asas coloridas. Ser tema de poesia.
Transformar-se em um chinês. Sendo lagarta ainda, este pequeno
ser tem um grande caminho a transpor. E certamente encontrará
lestrigões, ciclopes, meninos e os terríveis homens, em
seu caminho. Às vezes, chegar a crisálida já é
uma grande vitória. Ser ninfa do porvir. As borboletas são
lindas, mas, não raro, sonhos intangíveis. É
preciso ter mais que talento e esforço para ir de lagarta a
borboleta. Participam também desse caminho as impassíveis
circunstâncias da vida. Estas que verdadeiramente apresentam os
vencedores e os vencidos. Olhando esta lagarta tão alheia.
Lembro-me das dores inevitáveis de meus irmãos de nossa
terra. Tantos morrerão lagartas! Tanta vida que poderia ter
sido e que não foi, tenro Manuel. A impossibilidade das coisas
possíveis que tanto me aborrecem. Quantas borboletas medíocres
em minha terra! Legatárias de circunstâncias injustas
que tanto facilitam o caminhar dos frívolos. Eu tenho, porém,
este deserto. Nele o esforço é sempre pessoal. Jeová
ofereceu a vida. Cristo, o exemplo. A mãe, o pai e os irmãos
ofertaram o amor sem o qual não adianta partir. E assim a vida
se compõe.
uma bela reflexão.
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