quarta-feira, 28 de agosto de 2013

A LAGARTA E A BORBOLETA



A única coisa constante da vida é a mudança, asseverou Heráclito há séculos. O eclesiástico também tece sábias palavras acerca do esvair-se da vida. Então, tenho pouco a dizer. Mas esta lagarta que passa lentamente merece umas palavras. É realmente um ser frágil. Desses que temos um desejo invencível de calcar com os pés. Pisar e vê-lo se extinguir enquanto é feio, lento e extremamente fácil de ser abatido. Se tiver as condições propícias, um dia esta lagarta será uma borboleta. Despertará olhares e interesse. Poderá voar. Pousar nas flores. Bater asas coloridas. Ser tema de poesia. Transformar-se em um chinês. Sendo lagarta ainda, este pequeno ser tem um grande caminho a transpor. E certamente encontrará lestrigões, ciclopes, meninos e os terríveis homens, em seu caminho. Às vezes, chegar a crisálida já é uma grande vitória. Ser ninfa do porvir. As borboletas são lindas, mas, não raro, sonhos intangíveis. É preciso ter mais que talento e esforço para ir de lagarta a borboleta. Participam também desse caminho as impassíveis circunstâncias da vida. Estas que verdadeiramente apresentam os vencedores e os vencidos. Olhando esta lagarta tão alheia. Lembro-me das dores inevitáveis de meus irmãos de nossa terra. Tantos morrerão lagartas! Tanta vida que poderia ter sido e que não foi, tenro Manuel. A impossibilidade das coisas possíveis que tanto me aborrecem. Quantas borboletas medíocres em minha terra! Legatárias de circunstâncias injustas que tanto facilitam o caminhar dos frívolos. Eu tenho, porém, este deserto. Nele o esforço é sempre pessoal. Jeová ofereceu a vida. Cristo, o exemplo. A mãe, o pai e os irmãos ofertaram o amor sem o qual não adianta partir. E assim a vida se compõe.




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