Só
quando subimos a montanha e percebemos que nada de bom aconteceu,
acreditamos que a razão de tudo estava mesmo no caminho. Eu
estive em São Paulo no natal de 1996. Era a primeira vez que
eu subia aquela montanha. Não estava muito feliz de estar ali.
Toda a vida que conhecia havia ficado para trás. Talvez se
tentasse compor um poema naquele natal, o primeiro verso seria assim:
“vou-me embora para Barro Duro”, uma vez que o imaginava, como a
Pasárgada do poeta Manuel Bandeira, o espaço onde eu
podia realizar tudo aquilo que o presente de então negava.
Parece que acreditei naquela história de que “ aqui faz
calor, mas também tem brisa”. É uma ilusão
pensar assim. Hoje tenho saudade de São Paulo. A velha
Pauliceia ainda desvairada. Da estação Armênia,
Ponte Pequena, onde vi a vida ser tão dura. A banca de
revista: meu trabalho, minha leitura, minha dor. O vendedor de café,
o Ceará, grande amigo, que provavelmente jamais o verei
novamente. O taxista Osvaldo não deixava a noite ficar
melancólica. Detestava os tenros e o estúpido Magrão,
seu concorrente de praça. Um velho advogado aposentado ia me
contar as últimas da política. Incrível, mas
parecia o noticiário mais recente. Sempre várias
bandeiras particulares mascaradas por uma grande bandeira pública.
E tinha os garçons das casas chiques da noite paulistana. Um
pizzaiolo que fazia a caridade de nos oferecer uma fatia de sua pizza
deliciosa. E os moradores de rua a nos dizer que há sempre uns
mais infelizes ainda. Queria voltar para o Piauí ainda que no
lombo de uma onça como pensara o compositor maranhense. Foi
possível realizar este pequeno desejo. Mas nunca o de fazer
tudo o que eu quis. Às vezes, em junho, quando faz um pouco de
frio aqui no sítio, lembro-me daquelas noites na avenida
Santos Dummot com a Tiradentes e a avenida do Estado. Faziam ali o
meu triângulo na Armênia. A noite era grande demais.
Pensava em tudo. Lia as revistas. E queria que a vida fosse
diferente. Ao romper da aurora, pegava o ônibus do Jardim
América e seguia para Itaquaquecetuba dormir o dia inteiro na
casa de minha querida irmã Maria. O dia para quem trabalha à
noite é o tempo que não existe de Santo Agostinho.
Parecia o mito de Sísifo, que consistia em passar o tempo todo
a rolar uma grande pedra para o píncaro de uma montanha para
em seguida ao arremesso voltar à fatídica rotina. Mas
algumas emoções vivi naquele tempo. Quando fui ao
viaduto do Chá ver o teatro municipal. Fiquei paralisado, “
foi aqui...! Mário de Andrade e sua turma”. E a arte não
seria mais a mesma. Eu não seria mais o mesmo. O grande
pássaro da liberdade por ali passou. O grande condor dos
Andes. E eu vi. No Largo São Francisco, a gravura de honra aos
poetas : “ Aqui estudou Castro Alves”, “ Aqui estudou Álvares
de Azevedo”. A Faculdade de Direito que também viu passar
Miguel Reale. E eu só queria voltar para o meu riacho. Banhar
numa água fria. Conviver perto dos que não são
eminentes, mas sabem cativar com as próprias vidas. Pablo
Picasso uma vez se referindo ao pintor francês Paul Cézanne
disse “ Ele foi meu único mestre”. Fico feliz porque
comigo não foi assim. Sempre tive muitos mestres na arte de
escrever. Mas não só os grandes me fascinam. Admiro os
mestres da vida com simplicidade. Aqueles que não procuram um
fim, mas um caminho. É assim que encontramos um pouco de
brisa. E, por isso, as coisas mais importantes podem às vezes
não constituir nossa prioridade. Às vezes a cidade mais
importante do país não é a mais importante para
nós, naquele momento. Só o doce caminho do amor pode
satisfazer nosso vazio de significado. Eu tenho mil razões
para dizer não, mas eventualmente vou dizer sim. E sei que
esse dia valerá a pena. Vamos então curtir a brisa.
Mas um texto ótimo, meu irmão cronista. Edilson rsrsrs
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