sábado, 14 de dezembro de 2013

DIA DE COMER CHOCOLATE



Vi uma vez a escritora Adélia Prado chorando ao ler um poema de Carlos Drummond de Andrade. Para um cartesiano comum isso deve ser encarado como uma cena patética. Todavia, para os artistas e as demais pessoas de sensibilidade desenvolvida, uma coisa ou um ato deflagram memórias e relações, e abrem caminhos para os afetos, e deixam a certeza de que nada passa para quem ama. Lembrei disso, porque na quarta-feira é meu dia de comer chocolate. Gosto de chocolate. Os flavonoides do cacau são vasodilatadores naturais. Mas não penso nisso, só como porque é uma delícia gastronômica. Dizem que uma princesa de Espanha levou chocolate para a corte da França e isso fez com que a iguaria ganhasse um requinte de realeza. Mas não como chocolate para ser requintado. Em verdade até prefiro o doce de mamão da dona Brasilina. O fato é que, toda quarta-feira, como chocolate. Não faço isso mais vezes, porque sempre faço um grande esforço para não cultivar vício algum nessa vida. Gosto de chocolate, mas gosto mais ainda de arte. Toda quarta-feira eu e uns amigos artistas fazemos o chá com os artistas, em Santa Inês, uma reunião semanal em que sempre há música, literatura, teatro e dança. Quando é quarta-feira, chocolate tem cheiro de arte. Eu já acordo cedo com esse cheiro e compreendo muito bem por que a poeta Adélia Prado chorou.          

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