domingo, 1 de dezembro de 2013

MARANHÃO




Talvez um dia eu diga adeus ao Maranhão, mas não ainda, mas não agora, mas não já. Eu penso os lugares a partir dos rios, dos riachos e dos igarapés. É o que mais me fascina na natureza. Aqui tudo é belo neste jaez. Quando eu terminei a faculdade, vim trabalhar como professor na cidade de Barra do Corda. Tenho um modo estranho de me apegar aos lugares mais do que às pessoas. Já se disse que "só é digno de estar em um lugar quem o ama". Eu amei o rio Corda sem esforço algum. Um menino ribeirinho que trago dentro de mim precisa de uma correnteza para se deixar levar de corpo e de pensamento. O Corda e o rio Mearim se abraçam no centro da cidade. A gente pode vê-los seguir juntos, e perceber que o belo rio Corda já não existe mais quando aquelas águas chegam a Bacabal. Depois vim para Santa Inês, no Vale do rio Pindaré. Ainda encantado com a terra, mas tendo também agora que olhar para as gentes. Vê-se que aqui dá no raso a poesia. Gonçalves Dias, Ferreira Gullar, João do Vale, Nauro Machado, Raimundo Correia são tantos e fortes e de cantos tão belos que a graúna negra deixa a serra e vem para o vale me emocionar como um dia fizera uma linda toada do boi de Axixá. A arte é sublime, mas não apaga a vergonha dos indicadores sociais do Maranhão. O analfabetismo aqui chega a 56% da população, isso fora o analfabeto político, que é o que existe de mais estarrecedor. Os governantes demonstram claramente inclinação para déspotas. Há ainda não sei que de bruto no Maranhão. É mesmo muito difícil desbravar as almas. Tanto mar, rio e riacho a nos separar. Mas o tipo humano do Maranhão tem uma beleza natural. Uma linguagem que dá gosto ouvir. Como disse uma vez Manuel Bandeira o povo é que fala gostoso o português do Brasil. No Maranhão fala-se bonito demais. Só um doido poderia achar essa prosa daqui parecida com o falar de um portuga, seja Manuel, seja Joaquim. Aqui chama-se comida é "comer". Diz-se para o amigo: "te olhei na feira hoje" ou "mais tarde a gente se olha". Para compartilhar algo diz-se "eu participei todo o acontecido para o patrão". Fica-se "arreliado" com a vida dura e xinga-se "uma misera dessa só pode estar é abilobado". Eu me apego aos lugares onde vivo. Vejo Santa Inês com um futuro glorioso. Para mim aqui é a cidade da arte no Maranhão. Um dia canavial e ponta da linha do trem de ferro, hoje o progresso se avizinha veloz. Tenho ternura por esta terra. Não cheguei atrasado, uma vez que estou vendo tudo acontecer. E o que não vi os poetas e músicos me contaram com arte sem igual. Como o mestre Ariano Suassuna, eu também sou ligado a uma terra de onde vim. O meu lar é encantado, tatuou minha alma e dele não me posso desvencilhar. Mas agora minha vida é no Maranhão. Sou feliz aqui. Sei que a gente precisa trabalhar muito por dias melhores. Que seja o labor de quem ama. Posso um dia dar adeus ao Maranhão, mas não ainda, não agora, não já.                  

Um comentário: